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Perspectivas da Depressão

Sintomas, busca por ajuda e representação na mídia da doença que afeta quase 6% dos brasileiros

Humor triste, irritabilidade, insegurança e alterações que afetam o comportamento, como diminuição na capacidade de concentração, indecisão e falta de interesse nas atividades do dia a dia. Assim é caracterizada a depressão pela Medicina, doença que afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e 5,8% dos brasileiros — colocando o Brasil como o segundo país do continente americano e quinto do mundo em número de pessoas com depressão.

Atualmente, 21% das pessoas entre 14 e 25 anos no país, segundo levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sofrem de depressão. Os dados são alarmantes e apontam para a gravidade da doença, principalmente na população jovem, pois a juventude é marcada por muitas mudanças na vida e no corpo do ser humano.

“A depressão é um transtorno afetivo que é caracterizado por sintomas de tristeza, melancolia, falta de apetite, apatia, irritabilidade, falta de vontade de fazer as coisas, a pessoa tem poucos desejos em relação à vida, não sente vontade de fazer as tarefas do dia a dia, sente um cansaço muito grande. É importante dizer que ela não é só uma característica emocional, mas ela também se apresenta de forma física.”, explica a psicóloga Carolline de Carvalho.  

Insônia ou hipersônia também são sintomas de pessoas com depressão, assim como grande perda ou ganho de peso em pouco tempo, o que mostra que é uma doença de extremos, que afetam além do psicológico. Sentimentos como culpa e inutilidade e pensamentos relacionados à morte são constantes quando uma pessoa está em depressão, segundo a Associação Americana de Psiquiatria.

A neurologista Andréia Moreira, explica que a depressão é uma doença que afeta o cérebro em hormônios responsáveis por humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, entre outras funções: “afeta a neurotransmissao química, em especial, aquelas mediadas por noradrenalina e serotonina (hormônios). Isso faz com que o sistema de recompensa seja afetado e o prazer em fazer as atividades normais seja perdido. Desta forma o indivíduo tem dificuldades em trabalhar, ter atividades de lazer, momentos prazeirosas com a família e sozinho”.

Mesmo que esses sintomas sejam comumente apresentados por pessoas com depressão, há muitas variações da doença, como explica a psiquiatra e diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Fátima Vasconcelos:

DEPRESSÃO NA MÍDIA

A ABP possui uma cartilha de combate ao suicídio, que visa orientar doentes e pessoas da área de saúde sobre a relação do suicídio com doenças mentais. A psiquiatra também destaca a importância de procurar ajuda, pois a depressão, em seu nível mais grave, pode levar ao suicídio, segunda maior causa de morte de jovens no Brasil, segundo a OMS.

“A ideia de que alguém que fala que vai cometer suicídio não vai é uma falácia. Na verdade, quando alguém fala isso, temos que avaliar e tratar essa pessoa. É preciso avaliar se isso, de fato, é só uma forma de chamar atenção ou se representa uma doença. Se, neste caso, for uma pessoa com histórico de depressão, ou que já tenha atentado contra a própria vida, há um risco real”, ressalta Fátima.

Há diferentes formas de buscar ajuda. É importante conciliar tratamentos, como o acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e neurologista – que são os profissionais mais indicados para este tipo de doença. “Assim que identificamos [psicólogos] a depressão, já fazemos o encaminhamento para o psiquiatra, que já faz a solicitação de exames porque é muito importante o apoio da medicina para esses casos. A gente trabalha entendendo a questão psicológica do paciente, entendendo em que contexto social essa pessoa está inserida e o biológico dela”, afirma Carolline.

Andreia Moreira também destacou a importância do apoio de pessoas próximas nestas situações, como familiares e amigos. É importante que as pessoas com depressão ou que suspeitam desse quadro busquem a fonte mais próxima de ajuda desde o início do tratamento. “Devemos procurar esclarecer bem o caso para o paciente para que ele realmente se trate e o ideal é que alguém da família esteja envolvido nesse tratamento para que o paciente se sinta apoiado e para que o médico se sinta seguro”, explica a neurologista.

A DEPRESSÃO EM SEU EXTREMO

Para entender a depressão e seu histórico, é preciso saber que, além dos sintomas e do desequilíbrio físico-químico do cérebro, a doença tem influências sociais. O crescimento da população com depressão no Brasil e no mundo fez com que o assunto ganhasse importância e relevância social, se tornando assim, um assunto retratado na mídia. Portanto, a mídia, com seu poder de falar com muitos públicos, deve contribuir na quebra do tabu existente em torno da doença.

A jornalista Flávia Tavares, que escreveu uma reportagem especial sobre suicídio para a revista Época, em abril de 2018, explica: “o tema está sendo desmistificado e muito por causa da mídia, que tem um papel importante; fala-se mais do assunto. Há quem trate com sensacionalismo, o que não ajuda em nada, mas há quem o faça com seriedade”, diz ela.

Em alguns casos, a mídia não retrata os casos de depressão da melhor forma possível, como alerta Flávia e a psicóloga Carolline: “as redes sociais e a mídia podem ser um gatilho muito pela idealização de vida, onde vemos todos muito felizes e viajando. Até na televisão mesmo, alguns casos psíquicos e psiquiátricos são muito floreados. A gente sabe que é uma obra de ficção, mas algumas pessoas acreditam como sendo um modelo verdadeiro, uma verdade absoluta, o que pode gerar frustrações e gatilhos”.

Por outro lado, a internet pode ser uma boa fonte de informações, onde pessoas com depressão podem encontrar conteúdos com a credibilidade do Centro de Valorização da Vida (CVV) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), por exemplo. Além disso, nas redes sociais há relatos de superação, feitos por influenciadores digitais, celebridades e até jornalistas, que podem ser inspirações. Já os veículos de comunicação, muitas vezes abordam o tema de maneira superficial e "fria", se atendo a dados estatísticos. Mas existem iniciativas que se destacam, como a matéria assinada por Flávia na Época e o blog ‘Morte sem tabu’ do jornal Folha de S.Paulo, assinado pela escritora e dramaturga Camila Appel, que reúne relatos, reportagens e artigos sobre morte e, consequentemente, fala de depressão e suicídio.

Em um contexto que quase 65% dos brasileiros têm acesso a internet, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C) do IBGE divulgada neste ano, é importante considerar todas as informações que o mundo digital pode oferecer. Levando os dados e possibilidades para a prática, Flávia conta o quanto esse mundo de informações pode ajudar as pessoas. “Uma das minhas personagens chegou a cogitar tirar a própria vida, assim como a filha havia feito. Mas em uma busca na web, que a encaminhou o blog ‘Morte sem tabu’, descobriu um grupo de apoio que, segundo ela, salvou sua vida. É a mídia ajudando uma pessoa em uma situação de risco”, afirma.

Mas escrever sobre depressão e suicídio demanda um cuidado para que não se ative gatilhos ou gere uma interpretação de intromissão exagerada. “É uma abordagem que o jornalista tem que fazer de uma forma muito serena e pensando em cada palavra que ele coloca”, explica a jornalista sobre sua experiência com pessoas envolvidas e afetadas por impactos da depressão.

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