top of page
Inconstância

Em meio a mudanças físicas e emocionais

“É difícil definir isso em palavras. Eu acho que são obstáculos, uma dificuldade a mais na vida, mas é uma coisa que eu tenho que lidar”, assim Thiago Aguilar define a depressão, em fala pausada de quem ainda estava se acostumando com a presença da câmera.

O estudante de publicidade de 21 anos conta que tem dificuldades de socialização desde criança, e justifica dizendo que teve que mudar de lugar muitas vezes e, com isso, se adaptar a um novo lugar, novas pessoas e fazer novos amigos. 

“Eu morei em 5 cidades e estudei em 11 escolas e isso afetou minha saúde mental demais. Depois que eu descobri que tinha depressão, ficou claro para mim que eu convivia com isso desde pequeno”, revela Thiago, que apesar das mudanças bruscas na vida, explicou que a doença não está diretamente relacionada a isso, mas a uma herança familiar: “a minha mãe tem histórico, ela teve síndrome do pânico. Então não foi nenhuma surpresa para mim descobrir isso no ano passado, fazendo terapia”.

Thiago já ia ao terapeuta há cinco anos devido às mudanças não só físicas, mas interiores da adolescência. Saber e assumir não foi um problema, por outro lado lidar com os momentos ruins e crises depressivas são uma dificuldade muito presente. “A realidade é que eu ainda estou lidando com isso. Eu nunca tive um período de estabilidade muito grande. Tem épocas que eu fico muito bem, tem épocas que eu fico muito mal. Acho que principalmente depois do ano passado para cá começou a se agravar muito”, fala, com clareza, enquanto parece lembrar de uma crise ou outra, enquanto escolhe as palavras.

As crises chegam de surpresa: “a primeira vez que eu tive eu comecei a tremer, chorar, não conseguia respirar direito e ficava tudo formigando. Na primeira vez eu ainda não sabia lidar, mas da segunda vez que isso aconteceu eu já tinha ido ao psiquiatra e eu tinha remédio calmante que me ajudou bastante”, diz.

Em pensamentos lentos e fala envergonhada, entre mãos agitadas brincando uma com a outra, ajeitando o cabelo ou a meia, ele contou que ter essa inconstância o tempo todo ajuda nas certezas dentro da doença, mas confunde seus sentimentos e a convivência com as outras pessoas.

“Eu tive muita ansiedade e na realidade eu acho que a minha ansiedade tem muito mais a ver com o social do que com o trabalho e a minha vida acadêmica. Então relacionamentos no geral e um relacionamento em específico piorou muito a minha ansiedade”, explica ele, com pausas causadas por falatório no corredor da faculdade, onde estava sendo gravada a entrevista.

Com a dificuldade do autocontrole e as crises, Thiago começou a tomar remédios, e assume a importância disso, mesmo com as contrapartidas que remédios antidepressivos apresentam. “Eu tomo remédios e já troquei algumas vezes porque esses remédios dão alguns efeitos colaterais e eu acabo tomando um remédio para rebater o efeito de outro. Eu odeio tomar remédio na realidade, mas me ajuda muito a acabar com crises de ansiedade. Então por um lado piora, por outro melhora e dá mais qualidade de vida”, revela o estudante. m o social do que com o trabalho e a minha vida acadêmica. Então relacionamentos no geral e um relacionamento em específico piorou muito a minha ansiedade”, explica ele, com pausas causadas por falatório no corredor da faculdade, onde estava sendo gravada a entrevista.

Apesar do jeito envergonhado e o sorriso discreto de canto de boca, Thiago diz que não tem problemas em falar para outras pessoas que tem depressão e acha que elas podem ser compreensivas quanto a isso e que isso pode ajudar nas relações interpessoais. “Acho que quando eu era menor, talvez até por não ser tão claro para mim, era difícil explicar para as pessoas o que eu sentia. Mas ultimamente como isso tem sido mais claro, é muito mais fácil falar sobre isso. Os relacionamentos em geral que eu tenho são compreensivos”, fala em tom de conselho, quase que sorrindo.

Além de poder conversar sobre isso com as outras pessoas, ele considera que ver o assunto na mídia e ter mais representatividade é bom para a sociedade, segundo ele, sua mãe, mesmo com problemas parecidos, teve um pouco de dificuldade para lidar com a sua situação. Então, considera que para ele pode ser tranquilo lidar, mas para outras pessoas não, por isso é importante falar mais sobre o assunto, o que, quando acontece, nem sempre é feito da melhor forma.

“Eu acho importante falar sobre depressão, mas ao mesmo tempo acho que as pessoas romantizam demais. Em novelas e filmes acaba sendo uma representação bem romantizada e estereotipada. Então às vezes é problemático a forma como é tratada”, explica Thiago, que se sente melhor hoje e que a última crise mais grave já faz algum tempo e que naturalmente tudo foi melhorando.

A arte sempre foi um escape de momentos ruins, ele confessou que tocar violão ou guitarra sempre o ajudou de alguma forma, mas só percebeu essa ligação depois do diagnóstico de depressão: “durante muito tempo, quando ainda nem passava pela minha cabeça que eu tinha depressão, eu tocava. Tocar sempre me ajudou a melhorar a minha ansiedade e andar de skate também”.

Reportagem multimídia produzida por Anna Beatriz Dias, Giulia Belló, Júlia Faber e Juliana Botelho, para Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo/ ESPM-Rio.

bottom of page